sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Tempos sombrios para os professores

Momento de  confronto: vitimização do professor  x  superproteção do aluno

Há sete anos, quando o estudo "Cotidiano das Escolas: entre violências", realizado pela Unesco, foi divulgado, soube-se que 47% dos professores das escolas analisadas já haviam sido xingados por alunos. Nas 110 escolas pesquisadas, 11% dos membros do corpo técnico-pedagógico declararam ter sofrido agressão física na escola no ano anterior. A análise foi feita em seis capitais do país. Não demorou muito para que outra pesquisa ganhasse a atenção pública. "A vitimização de professores e a alunocracia", análise feita pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), apontou há quatro anos que 58% dos docentes ouvidos não se sentem seguros em relação às condições ambientais e psicológicas no trabalho. 89% declararam que gostariam de contar com leis que os amparassem no que diz respeito a essa insegurança. A pesquisa envolveu questionários e entrevistas com 200 professores da rede pública e da privada de dez escolas na Grande Porto Alegre.

O material chegou às mãos do senador Paulo Paim (PT-RS), que propôs, em 2010, um projeto de lei (PL 191/2009) sobre a violência contra o professor. A exemplo da Lei Maria da Penha, que combate a violência contra a mulher, a ideia do projeto é estabelecer normas de encaminhamento para o professor agredido e de criminalização do agressor. O projeto foi aprovado em novembro de 2011 pela Comissão de Educação do Senado.

A quantidade de outros projetos apresentados em apenas um ano é um indício de que o tema é motivo de preocupação pública. "O número é significativo porque mostra que o tema está na agenda pública e preocupa parlamentares", analisa a advogada especialista em Direito Civil Aplicado, Curadora Especial e Inventariante Dativa nas Varas de Família de Porto Alegre, Luciane Faraco. "Esse tipo de violência chama atenção porque vem ganhando um grau de agressividade cada vez maior", alerta Luciane Faraco.

Para a advogada, a própria criação de leis específicas para dar conta do problema é um equívoco. Primeiro, porque o agressor já pode ser enquadrado pelo Código Penal ou pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que estabelecem medidas punitivas. "Cada vez mais, parece que os problemas são resolvidos com a edição de leis". Segundo a advogada, os projetos de lei, no caso da educação, funcionam como paliativos de problemas maiores nos quais a escola está envolvida. Em outras palavras: criar mecanismos criminais dentro da escola não é a solução dos problemas, já que a violência continua solta na sociedade. "Não é a criminalização que se faz ali dentro que vai impedir os casos. A lei de sequestro não fez com que o número de casos caísse", pontua.


Quando um professor sofre violência hoje, faz um boletim de ocorrência na delegacia mais próxima. O autor da agressão não precisa estar presente, já que será chamado depois dos procedimentos penais. "Na medida em que você torna a resposta do Estado mais rápida, evita que a ação se repita. Os projetos simbolizam o reconhecimento de que o problema existe", opina Luciane Faraco. Como ainda aguardam aprovação em comissões permanentes da Câmara e do Senado, não há previsão de aprovação dos projetos. Para a advogada, pode ser que nem saiam do papel. "Se não há um pedido de urgência dos líderes partidários para que o projeto seja apreciado em plenário, o que normalmente ocorre quando há interesse político, os projetos ficam parados e raramente são aprovados", afirma.

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