Próximo
a data mundial que marca o seu combate, o trabalho infantil apresenta novo
perfil no Brasil
12
de junho não é apenas o dia dos namorados: também é Dia Mundial de Combate ao Trabalho
Infantil. Em dez anos, o Brasil tirou quase 530 mil crianças e adolescentes de
situações de trabalho e os devolveu às suas atividades de direito: estudar,
brincar e crescer saudável. Outros 3,4 milhões de crianças e adolescentes de 10
a 17 anos ainda trabalham no país, segundo a última análise do IBGE, baseada no
Censo de 2010. Já em estimativa mais abrangente da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, no ano de 2011, são 3,6 milhões de
crianças de 5 a 17 anos trabalhando – ou 8,6% da população nessa faixa de
idade.
A
modesta redução de 13,4% no número de crianças e adolescentes trabalhando
apontada pelo Censo entre 2000 e 2010 poderia ser um alento, não fossem alguns
‘poréns’. Justamente na faixa mais vulnerável dessa população – as crianças de
10 a 13 anos, para quem qualquer tipo de trabalho é proibido –, a ocorrência do
problema chegou a aumentar 1,5% (são 710 mil crianças nessa idade, quase 11 mil
a mais que em 2000). No levantamento da PNAD, em todo o Brasil havia 89 mil crianças
de 5 a 9 anos e 615 mil de 10 a 13 anos trabalhando – mais de 700 mil crianças
no total, o que equivale a pouco menos que a população da cidade de João
Pessoa.
A
mão de obra de quase 2,7 milhões de jovens entre 14 e 17 anos, apesar de menos
frequente que há dez anos (os adolescentes que trabalhavam eram então 3,2
milhões), é empregada de maneira irregular e em atividades perigosas. Segundo a
legislação brasileira, jovens de 14 e 15 anos só podem trabalhar na condição de
aprendizes; os de 16 e 17 anos, em atividades que não sejam perigosas ou
degradantes, protegidos por uma série de condições.
Novo
perfil do trabalho infantil
Se
comparada a condição atual à do início dos anos 90, quando a Organização
Internacional do Trabalho (OIT) começou a monitorar a questão no Brasil, o
trabalho infantil hoje é mais urbano e menos rural e atinge, na média, crianças
mais velhas que há 20 anos. Essas crianças enfrentam, em sua maioria, uma dupla
jornada de escola e trabalho com a própria família, que nem sempre está em
situação de pobreza.
“Se
anteriormente a pobreza era um dos determinantes do trabalho infantil, hoje
esta relação está menos clara. Quase 40% das crianças e jovens que trabalham
não estão em famílias que vivem abaixo da linha de pobreza”, destaca o advogado
Ricardo Martins Limongi, especialista em Direito do Trabalho, Empresarial e
Administrativo.
Isso
denota uma mudança de motivação, principalmente por parte dos adolescentes.
“Antes o jovem trabalhava para complementar a renda básica da família, hoje
trabalha para ter acesso aos bens resultantes do desenvolvimento, como um
celular ou uma roupa de marca. Muitas vezes o trabalho infantil e juvenil está
mais ligado à necessidade de inclusão social e menos à sobrevivência”, afirma o
especialista.
Na
avaliação de Ricardo Limongi, o Brasil se encontra num momento decisivo para
repensar as políticas de combate ao trabalho infantil e atacar o problema em
toda a sua complexidade. “Não é possível que, em plena fase de desenvolvimento
e o país incluso entre as seis maiores economias do mundo, o problema persista.
É uma situação epidêmica, que demanda ação imediata”, conclui o advogado.
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