quinta-feira, 6 de março de 2014

A mulher no mercado de trabalho

Segregações vertical e horizontal comandam o cenário

Depois do carnaval, uma viagem no tempo comprova que a mulher deixou o lar, delegou a educação dos filhos e começou a obter o seu próprio dinheiro. O cenário parece auspicioso: o sexo dito frágil sai de casa, liberta-se do cordão masculino, apresenta-se como um membro da sociedade emancipado e autossuficiente. Contudo... o panorama não é tão agradável assim.

Não se pode negar a maior suscetibilidade feminina no que concerne ao desemprego. A taxa de desemprego da mulher é sensivelmente mais insinuante do que a do homem (homens: 6,4%; mulheres ascendeu aos 8,3%, segundo INE – 2006).

A máxima “salário igual para trabalho de valor equivalente” é rotineiramente adulterada. Em média, os salários das mulheres são inferiores aos dos homens, mesmo nos níveis de qualificação mais elevados, pontua a advogada Luciane Faraco, especialista em Direito Civil.

A condição de que qualquer situação desviante da norma é punida acontece: na teoria; veja-se o caso da gravidez, por exemplo. Quantas mulheres são demitidas pelo fato de terem engravidado? Não raras são as entrevistas de emprego que levantam a questão: quando pretende ter filhos? Mais. Quantas mulheres protelam a maternidade em virtude dos desejos da entidade patronal?

As mulheres são maioria nas universidades. Mas será que detêm o mesmo status que os homens? Por um lado, há uma concentração feminina em um conjunto restrito de atividades profissionais: serviços pessoais e domésticos; saúde; ação social e educação – segregação horizontal. Por outro, a nível da verticalidade do mercado de trabalho, verifica-se uma maior prevalência das mulheres nos níveis inferiores da hierarquia profissional, ou seja, à medida que aumentam os níveis de qualificação, a concentração feminina diminui – segregação vertical.

A violência laboral, explica a advogada, transfigurada no assédio moral e sexual persiste entre indivíduos. O assédio moral corresponde a tentativas de descredibilizar, escarnecer e menosprezar - manifestadas por um indivíduo em relação a um que lhe é hierarquicamente inferior. Esta forma de violência é, frequentemente, exercida especialmente sobre mulheres. O assédio sexual consiste num comportamento de matriz sexual indesejado por quem é objeto da mesma. Traduz-se em suborno sexual (a vítima é aliciada com oportunidades de formação profissional, promoções, aumento de salário se aceder aos “pedidos” que lhe são colocados); comentários inoportunos, agressões físicas, posturas sexuais.

“Nem tudo o que parece, é”. A menção desta expressão não poderia ser mais oportuna. O fato de as mulheres participarem no mercado de trabalho não significa que detenham o mesmo status e oportunidades que os homens. A igualdade em sua dimensão está longe de ser uma realidade. Ela pode ser conquistada, mas para tanto precisa ser refletida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário