Advogada defende que é
preciso que as políticas públicas considerem a desigualdade de gênero
Pesquisa
feita pelo Data Popular e SOS Corpo – Instituto Feminista pela Democracia
comprova que a maior participação das mulheres no trabalho remunerado não foi
acompanhada de mudanças na divisão sexual do trabalho doméstico, nem na oferta
de políticas públicas.
Foram
entrevistadas 800 mulheres de nove capitais brasileiras, além de Brasília, com
idade entre 18 e 64 anos e que possuíam algum tipo de trabalho remunerado em
2012.
O
estudo aponta uma percepção majoritária entre as entrevistadas (91%) quanto à
importância do trabalho remunerado. As mulheres consideram que o trabalho
remunerado é fundamental em suas vidas, mesmo admitindo que sua rotina de
trabalho é extenuante por serem também as principais responsáveis pelo trabalho
doméstico e pelo cuidado com os filhos.
Ao
falarem de seu dia a dia, as entrevistadas enfatizam a multiplicidade de
tarefas, funções e responsabilidades que têm que enfrentar cotidianamente. Fica
clara a longa e cansativa rotina de uma mulher que, além do trabalho
remunerado, também cuida da casa, é esposa e mãe.
“As
alterações ocorridas no mundo do trabalho, como demonstra a pesquisa, não
levaram a mudanças significativas na divisão sexual do mesmo. O que se observa
são consequências que afetam diretamente as mulheres, que continuam como as
principais responsáveis pelos afazeres domésticos e cuidados com os filhos.
Falta de tempo e grande sobrecarga marcam seu cotidiano. Os homens e o Estado,
segundo os resultados da pesquisa, pouco contribuem para a mediação das
jornadas”, avalia a advogada especialista em Direito Civil, Luciane Lovato Faraco
– sócia da Sociedade Limongi Faraco Ferreira Advogados.
Em
cada dez entrevistadas, sete consideram que o trabalho do homem não é mais
importante que o da mulher. E 63% concordam com a afirmação de que “as mulheres
sempre ganham menos do que os homens”.
Para
as entrevistadas, os maridos dão mais trabalho do que ajudam. E para as
mulheres casadas das classes C e D, isso é mais evidente: 64% e 61%,
respectivamente.
As
entrevistadas apontam a existência de uma tensão entre ter um trabalho
remunerado, que dá autonomia, e ter que se afastar das responsabilidades com o
trabalho doméstico e o cuidado com os filhos. Sobre a concordância com a frase:
“Se eu pudesse, eu pararia de trabalhar para cuidar da casa”, observa-se que,
quanto menor a renda, maior a vontade de parar de trabalhar: 59% expressam esse
desejo na classe D; 37% na classe C; e 32% na classe AB.
Sete
em cada dez sentem que falta tempo no dia a dia, especialmente para cuidar de
si. E três em cada quatro consideram sua rotina extremamente cansativa. Nos
finais de semana 73% das mulheres realizam tarefas domésticas nas suas próprias
casas.
Creche
e transporte lideram entre as principais demandas das mulheres para o poder
público. A pesquisa revela que encontrar vaga em creche é a principal dificuldade
para as mulheres que têm trabalho remunerado. A demanda por creche não varia de
acordo com a classe social (classe AB 36%; classe C 33%; e classe DE 34%).
Para
a promoção da autonomia econômica e a liberação de tempo no cotidiano das
mulheres, é preciso que as políticas públicas considerem a desigualdade de
gênero. As entrevistadas apontam que uma maior cobertura das creches públicas,
com horário de funcionamento integral, e transporte público de melhor qualidade
iriam ajudar muito no dia a dia.
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